Introdução:
A cidade de São Paulo é um grande exemplo do que se passa no mundo como
um todo. Já que é uma metrópole que se enquadra dentro das maiores cidades do
mundo e que também carrega os problemas terríveis que qualquer outro grande
centro possui e, mais agravante, possui problemas ainda peculiares a ela como,
por exemplo, malabares infantis ou da terceira idade nos faróis.
Quem pode assim melhor retratar a dualidade da cidade é a Vera da Silva Telles,
que citando Roberto Schwarz, escreve:
“Em texto célebre, Roberto Schwarz
(1988) comenta o quanto a sensação que este país sempre deu de dualismo,
disparates e contrastes de todos os tipos deve a experiência do desconcerto
diante de uma sociedade que se quer moderna, cosmopolita e civilizada, mas que
vive placidamente com a realidade da violência, do arbítrio e da iniqüidade”[...]
(Telles, p 13)
As décadas de 1980 e 1990 foram cruciais para o advento da maior crise
miserável que nossa cidade poderia vivenciar. [...]“Em primeiro lugar,
encerramos a década de 80 diante de uma sociedade que não apenas se quer
moderna como, em alguma medida, se fez moderna”[...] (Telles). Com a
industrialização da capital paulista, dezenas de pessoas foram atraídas à cidade
querendo buscar uma vida melhor, mas como contradição do capitalismo a riqueza
veio, porém não para todos. O que foram agraciados, com o emprego sonhado, pode
desenvolver suas habilidades e construir a casa própria, sonho de tantos
brasileiros. Com tudo, infelizmente, o sonho foi para todos. Sua realização
para poucos moradores do grande centro industrial.
É baseado na esperança de uma vida melhor que muitos trabalhadores
acorrem à capital e suas adjacências, para realizar o sonho de um futuro digno.
A ilusão cai por terra quando as dificuldades acometem os trabalhadores, que
muitas vezes, se enxergam como os culpados do fracasso e não percebem que tudo
é culpa do mesmo motivo que os trouxe à cidade grande. A busca irracional de
capital.
O sonho proporcionou o avanço da cidade para um futuro grande, porém
condenou a mesma cidade a problemas que nos parecem insolucionáveis. O
transito, a moradia irregular, a saúde precária, o desemprego, a falta de
segurança e tantos outros problemas que a metrópole enfrenta por ser metrópole
e por reproduzir a desigualdade do capitalismo, que está baseada na miséria e
no enriquecimento de poucos.
Moradias:
Um dos grandes culpados da cidade vivenciar o caos que esta afundada na
atualidade é o fato de estar baseado em um [...]“modelo urbanístico
concentrador, excludente e predatório, que estruturou a lógica da desordem das
nossas cidades”[...] (Rolnik, 2008). Cerca de 11 milhões de pessoas vivem em São Paulo , muitas delas
em casas que mal podemos afirmar que seja uma residência. Outras tantas moram
em casas alugadas, longe do sonho da casa própria. Os poderes constituídos
constroem casas e reorganiza favelas, atitude que não passa de uma medida
pequena perto da proporção que as ocupações irregulares crescem na cidade e em seu
contorno. Discutir moradia digna é um dos temas que a cidade de São Paulo terá
de enfrentar já que chegamos a níveis insuportáveis de sub moradias e de pessoas
vivendo nas ruas. Acredita-se que cerca de 500 mil pessoas habitam as ruas só
da capital paulista. Neste século um dos problemas a ser solucionado será o de
morar bem em um centro urbano que não pode comportar as pessoas que querem aqui
viver. O fato é que temos menos espaço que a demanda pede. E como resolver? A
construção de moradias e o deslocamento de pólos de emprego para outras regiões
do Estado pode ser uma saída, pouco provável, já que esbarra nos interres de
políticos e grupos financeiros que também vivem do caos urbano.
A reprodução de moradias de risco e em áreas invadidas é nada mais que a
continuidade de um modelo econômico que, sem o controle governamental, cria
saídas para a população que está entre a teoria acadêmica e a prática estatal da
necessidade de morar. Assim como podemos afirmar que: [...]“Em São Paulo , por exemplo,
as favelas apresentam maior precariedade quanto ao tipo de terreno ocupado e
maior afastamento das áreas centrais”[...](Ribeiro, 2008), mais uma prova de
nossa peculiaridade dentro de uma desordem urbana. O mercado esta ai para
solucionar o impasse do seu jeito. Criando loteamentos e construções em
condições precárias, e o capitalismo mostrando mais uma vez sua face
avassaladora. [...]“A pobreza contemporânea parece, na verdade, constituir uma
espécie de ponto cego que desafia teorias e modelos conhecidos de explicação”[...]
(Telles)
Trânsito ou Estagnação:
Outro grande exemplo do caos urbano é o transito de São Paulo, que cada
dia menos está longe da etimologia da palavra. É pitoresco assistir os tele jornais
e especialistas no assunto. Sempre se ressaltam as dificuldades financeiras e
matérias que os congestionamentos trazem à cidade e aos meios de produção. Até
quando ligam o transito à saúde, o que se ressalta é o custo que ele traz a
prefeitura nos atendimentos dos hospitais públicos. Mais uma faceta do capitalismo
que só vê o custo e o lucro em tudo que lhe cerca. Os desgastes humanos com os
congestionamentos não são lembrados no viés humanitário. Não se questiona o
fato do pai de família não estar em casa, ou a mulher que não está com suas
amigas ou se divertindo com seus filhos. Somente os aspectos financeiros são
ressaltados na discussão do transito. Esquecendo-se da necessidade de lazer que
os homens possuem para a busca da felicidade. Longe de ser interesse do
capitalismo selvagem.
Mas até as desgraças da metrópole se tornam renda. Basta observarmos os
faróis que se tornaram pontos de venda de ambulantes que sobrevivem do caos da
cidade e se beneficiam da desgraceira urbana. É o capital mostrando seu poder
de inclusão. Por um lado temos a busca de lucro máximo e desenfreado, motivando
o crescimento desordenado da cidade e proporcionando condições para uma
aglomeração de pessoas em pseudo moradias e congestionamentos insuportáveis. Do
outro lado temos a “turma do bem” que pensa a cidade como um todo. Como um lugar
de se viver e conviver de forma saudável e com dignidade. A esta disputa está
ligada nossa sobrevivência e qualidade de vida.
Referencial teórico:
Telles, Vera
da Silva. Pobreza e Cidadania. Curso
de Pós-Graduação em Sociologia da
Universidade de São Paulo, Editora 34.
Telles, Vera
da Silva e Cabanes, Robert (org). Nas
tramas da cidade: trajetórias urbanas e seus territórios. São Paulo:
Associação Editorial Humanitas, 2006.
Rolnik,
Raquel A lógica da desordem. Lê Monde Diplomatique
Brasil - Agosto de 2008.
Ribeiro, Luiz
César de Queiroz O desafio das
Metrópoles. Lê
Monde Diplomatique Brasil -
Agosto de 2008
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