sábado, 12 de janeiro de 2013

Desafios da Pauliceia: Moradias, Trânsito ou Estagnação.



 Introdução:

A cidade de São Paulo é um grande exemplo do que se passa no mundo como um todo. Já que é uma metrópole que se enquadra dentro das maiores cidades do mundo e que também carrega os problemas terríveis que qualquer outro grande centro possui e, mais agravante, possui problemas ainda peculiares a ela como, por exemplo, malabares infantis ou da terceira idade nos faróis.
Quem pode assim melhor retratar a dualidade da cidade é a Vera da Silva Telles, que citando Roberto Schwarz, escreve:
“Em texto célebre, Roberto Schwarz (1988) comenta o quanto a sensação que este país sempre deu de dualismo, disparates e contrastes de todos os tipos deve a experiência do desconcerto diante de uma sociedade que se quer moderna, cosmopolita e civilizada, mas que vive placidamente com a realidade da violência, do arbítrio e da iniqüidade”[...] (Telles, p 13)

As décadas de 1980 e 1990 foram cruciais para o advento da maior crise miserável que nossa cidade poderia vivenciar. [...]“Em primeiro lugar, encerramos a década de 80 diante de uma sociedade que não apenas se quer moderna como, em alguma medida, se fez moderna”[...] (Telles). Com a industrialização da capital paulista, dezenas de pessoas foram atraídas à cidade querendo buscar uma vida melhor, mas como contradição do capitalismo a riqueza veio, porém não para todos. O que foram agraciados, com o emprego sonhado, pode desenvolver suas habilidades e construir a casa própria, sonho de tantos brasileiros. Com tudo, infelizmente, o sonho foi para todos. Sua realização para poucos moradores do grande centro industrial.
É baseado na esperança de uma vida melhor que muitos trabalhadores acorrem à capital e suas adjacências, para realizar o sonho de um futuro digno. A ilusão cai por terra quando as dificuldades acometem os trabalhadores, que muitas vezes, se enxergam como os culpados do fracasso e não percebem que tudo é culpa do mesmo motivo que os trouxe à cidade grande. A busca irracional de capital.
O sonho proporcionou o avanço da cidade para um futuro grande, porém condenou a mesma cidade a problemas que nos parecem insolucionáveis. O transito, a moradia irregular, a saúde precária, o desemprego, a falta de segurança e tantos outros problemas que a metrópole enfrenta por ser metrópole e por reproduzir a desigualdade do capitalismo, que está baseada na miséria e no enriquecimento de poucos.
Moradias:
Um dos grandes culpados da cidade vivenciar o caos que esta afundada na atualidade é o fato de estar baseado em um [...]“modelo urbanístico concentrador, excludente e predatório, que estruturou a lógica da desordem das nossas cidades”[...] (Rolnik, 2008). Cerca de 11 milhões de pessoas vivem em São Paulo, muitas delas em casas que mal podemos afirmar que seja uma residência. Outras tantas moram em casas alugadas, longe do sonho da casa própria. Os poderes constituídos constroem casas e reorganiza favelas, atitude que não passa de uma medida pequena perto da proporção que as ocupações irregulares crescem na cidade e em seu contorno. Discutir moradia digna é um dos temas que a cidade de São Paulo terá de enfrentar já que chegamos a níveis insuportáveis de sub moradias e de pessoas vivendo nas ruas. Acredita-se que cerca de 500 mil pessoas habitam as ruas só da capital paulista. Neste século um dos problemas a ser solucionado será o de morar bem em um centro urbano que não pode comportar as pessoas que querem aqui viver. O fato é que temos menos espaço que a demanda pede. E como resolver? A construção de moradias e o deslocamento de pólos de emprego para outras regiões do Estado pode ser uma saída, pouco provável, já que esbarra nos interres de políticos e grupos financeiros que também vivem do caos urbano.
A reprodução de moradias de risco e em áreas invadidas é nada mais que a continuidade de um modelo econômico que, sem o controle governamental, cria saídas para a população que está entre a teoria acadêmica e a prática estatal da necessidade de morar. Assim como podemos afirmar que: [...]“Em São Paulo, por exemplo, as favelas apresentam maior precariedade quanto ao tipo de terreno ocupado e maior afastamento das áreas centrais”[...](Ribeiro, 2008), mais uma prova de nossa peculiaridade dentro de uma desordem urbana. O mercado esta ai para solucionar o impasse do seu jeito. Criando loteamentos e construções em condições precárias, e o capitalismo mostrando mais uma vez sua face avassaladora. [...]“A pobreza contemporânea parece, na verdade, constituir uma espécie de ponto cego que desafia teorias e modelos conhecidos de explicação”[...] (Telles)
Trânsito ou Estagnação:
Outro grande exemplo do caos urbano é o transito de São Paulo, que cada dia menos está longe da etimologia da palavra. É pitoresco assistir os tele jornais e especialistas no assunto. Sempre se ressaltam as dificuldades financeiras e matérias que os congestionamentos trazem à cidade e aos meios de produção. Até quando ligam o transito à saúde, o que se ressalta é o custo que ele traz a prefeitura nos atendimentos dos hospitais públicos. Mais uma faceta do capitalismo que só vê o custo e o lucro em tudo que lhe cerca. Os desgastes humanos com os congestionamentos não são lembrados no viés humanitário. Não se questiona o fato do pai de família não estar em casa, ou a mulher que não está com suas amigas ou se divertindo com seus filhos. Somente os aspectos financeiros são ressaltados na discussão do transito. Esquecendo-se da necessidade de lazer que os homens possuem para a busca da felicidade. Longe de ser interesse do capitalismo selvagem.
Mas até as desgraças da metrópole se tornam renda. Basta observarmos os faróis que se tornaram pontos de venda de ambulantes que sobrevivem do caos da cidade e se beneficiam da desgraceira urbana. É o capital mostrando seu poder de inclusão. Por um lado temos a busca de lucro máximo e desenfreado, motivando o crescimento desordenado da cidade e proporcionando condições para uma aglomeração de pessoas em pseudo moradias e congestionamentos insuportáveis. Do outro lado temos a “turma do bem” que pensa a cidade como um todo. Como um lugar de se viver e conviver de forma saudável e com dignidade. A esta disputa está ligada nossa sobrevivência e qualidade de vida.

Referencial teórico:

Telles, Vera da Silva. Pobreza e Cidadania. Curso de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo, Editora 34.
Telles, Vera da Silva e Cabanes, Robert (org). Nas tramas da cidade: trajetórias urbanas e seus territórios. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2006.
 Rolnik, Raquel A lógica da desordem. Lê Monde Diplomatique Brasil -  Agosto de 2008.
Ribeiro, Luiz César de Queiroz O desafio das Metrópoles. Lê Monde Diplomatique Brasil -  Agosto de 2008

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