quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Avaliação da aprendizagem

 

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, permite ampla flexibilidade na condução dos assuntos escolares e, justamente por esse motivo, vem provocando forte impacto na organização dos sistemas de ensino e das escolas. 

 

Essa flexibilidade tem uma razão de ser: pretende colocar a qualidade da aprendizagem e o sucesso do aluno acima de toda e qualquer formalidade burocrática. Por isso, ao conceder autonomia pedagógica às escolas, a LDB cria as condições legais para que elas se organizem para alcançar os objetivos e as finalidades da educação básica.

 

Para que isso venha a ocorrer de forma bem-sucedida, é preciso que a escola reflita sobre suas concepções de ensino, de aprendizagem e, em especial, de avaliação da aprendizagem. No que concerne especificamente à avaliação, cabe mencionar o artigo 24 do capítulo II da LDB, que trata da educação básica, notadamente da organização dos níveis fundamental e médio. Interessa, em particular, o disposto no inciso V, segundo o qual a verificação do rendimento escolar deve observar os seguintes critérios:

 

a)      avaliação contínua do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, assim como dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;

b)      possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;

c)      possibilidade de avanço nos cursos e nas séries, mediante verificação do aprendizado;

d)      aproveitamento de estudos concluídos com êxito;

e)      obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos.

 

O que pretende essa lei?

 

Ela toma uma decidida posição contra o fracasso escolar e, também, contra o barateamento da educação. Por esse motivo, é que se espera, mais do que nunca, que os professores verifiquem constantemente os avanços e as dificuldades de seus alunos; que se avaliem – reformulando, se necessário, sua forma de ensinar – e ofereçam a eles, sempre que necessários, suporte e reforço escolar. Não esquecer que a LDB, em seu artigo 13, inciso III, deixa muito claro que compete aos docentes “zelar pela aprendizagem dos alunos”, sendo esta a forma de garantir o sucesso da aprendizagem e, portanto, a permanência dos alunos na escola. 

 

Assim, diferentemente do que se costuma supor, quanto maior for a flexibilidade da organização escolar, mais ela requererá avaliação do processo de aprendizagem dos alunos. Avaliações de diferentes modalidades – da aprendizagem, do desenvolvimento do aluno, do próprio ensino e, inclusive, aquelas de caráter institucional – devem receber especial cuidado por parte da escola.

 

A avaliação

 

A avaliação é uma importante ferramenta a serviço da gestão e do planejamento escolar na medida em que seus resultados permitem aprimorar o desempenho de seus alunos, a gestão da sala de aula e a organização interna da escola.

 

A ação educativa tem sempre um caráter intencional. Isso quer dizer que temos como meta provocar modificações específicas nas pessoas, em seu comportamento, suas ideias, seus valores e suas crenças. 

 

No espaço escolar, esperamos que nossos alunos aprendam, nossos professores ensinem melhor, os pais participem mais da escola, os funcionários exerçam bem suas tarefas, tornando-as também educativas. E queremos poder verificar se isso de fato aconteceu. Então, sempre que pensamos em evolução, mudança, transformação, é preciso pensar também em avaliação.

 

A importância da avaliação vem crescendo na medida em que a educação ganha mais espaço. A avaliação do desempenho dos alunos deve ser entendida sempre como um instrumento a serviço da aprendizagem, da melhoria do ensino do professor e do aprimoramento da escola.

 

Avaliamos para aumentar nossa compreensão do sistema de ensino, de nossas práticas educativas e dos conhecimentos de nossos alunos. Avaliamos também para esclarecê-los a respeito de seus pontos fortes e fracos, dos conteúdos que merecem mais atenção, onde devem centrar esforços. A avaliação, nesse sentido, permite a tomada de consciência de como estamos nos saindo.

 

Avaliamos para qualificar a aprendizagem, identificar problemas, encontrar soluções, corrigir rumos e acertar o passo de todos e de cada um.

 

Definido o espírito da avaliação, cabe ressaltar que ela envolve sempre dois aspectos indissociáveis. Um deles refere-se à coleta de informações relevantes e úteis, que nos permitam formar juízo acerca de uma pessoa, um fenômeno, uma situação, um objeto. Esses juízos devem ser formados para que orientem as decisões sobre o que ou quem está sendo avaliado, sendo esse o segundo aspecto anunciado anteriormente.

 

Se o diretor de escola perguntar a seus professores as razões pelas quais avaliam, eles provavelmente responderão: avaliamos para julgar se nossos alunos aprenderam e se estão em condição de enfrentar, com sucesso, o próximo ano; avaliamos para verificar se nossos alunos devem ou não ir para programas de recuperação e reforço etc. Os professores avaliam para formar juízos e tomar decisões. 

 

O problema é que acreditam, na maioria das vezes, que só alunos devem ser avaliados e que as decisões a serem tomadas dizem respeito apenas à vida acadêmica dos estudantes. Em geral, o professor, ao avaliar, raramente se inclui nesse processo. Essa é a visão que, infelizmente, vigora na maioria das escolas.

 

Mas há outra vertente, menos divulgada e quase sempre ausente das escolas, segundo a qual a avaliação – justamente por coletar informações importantes, que permitem formar juízos de valor e tomar decisões – deve ser vista como um instrumento do planejamento, uma ferramenta importante para que possamos refletir sobre onde estamos e para onde vamos. Nessa óptica, a avaliação ganha uma abrangência muito maior e assume uma importância central na escola, tornando-se um poderoso instrumento a serviço da qualidade do ensino. 

 

Quando se identifica o que os alunos sabem e deixam de saber, é possível repensar a capacitação docente, modificar os métodos de ensino empregado e centrar esforços naquilo que a avaliação demonstrou ser mais difícil para os alunos aprender.  

 

Nesse sentido, não há porque alunos, professores, coordenadores ou diretores de escola tenham medo dos processos avaliativos, pois são eles que permitem reconhecer os problemas ou lacunas de aprendizagem e buscar formas para que sejam enfrentados. Nessa medida, conforme apregoa o sociointeracionismo, a avaliação busca, essencialmente, acompanhar o processo de ensino e de aprendizagem para poder aprimorá-lo.

 

Instrumentos de avaliação e conceitos/notas atribuídas

 

Além dos testes objetivos e das provas dissertativas, existem muitos outros instrumentos de avaliação: questionários, deveres de casa, trabalhos em grupo e portfólios – um tipo de pasta na qual os trabalhos dos alunos que evidenciam seus progressos ao longo do ano escolar são armazenados: textos, relatórios, redações, desenhos e autoavaliações.

 

Outra fonte importante para avaliar é a observação dos professores sobre como as crianças e os jovens agem no dia a dia da sala de aula: estão aprendendo o que deles se espera? Em que ritmo? Nossos métodos de ensino têm se mostrado eficazes? Em que sentido é preciso mudar? 

 

Avaliações sempre devem ser cuidadosas, e uma de suas preocupações principais está no processo de correção das respostas obtidas e na maneira como informamos aqueles que foram avaliados sobre os resultados alcançados.

 

Aqui, a regra é buscar não ferir a autoestima de ninguém. Em primeiro lugar, não convém riscar os trabalhos dos alunos, chamando a atenção para o erro. Essa é uma prática velha, que pretende deliberadamente fazer com que os estudantes fiquem envergonhados, quando não culpados, por terem errado.

 

Muito mais importante do que isso é identificar a natureza do erro cometido. Por que o aluno errou? Errou porque a tarefa era maçante, ele se desmotivou e com isso não a terminou a contento? Ou por que queria acabar logo e não controlou a impulsividade?

Ele errou por que usou uma habilidade que não era requerida? O que ocasionou a confusão? Será que o aluno errou porque não foi capaz de pôr em prática sua ideia ou por que não entendeu o que tinha de ser feito por falta de concentração ou excesso de ansiedade? A questão era muito difícil (ou mal formulada) ou não houve tempo suficiente, antes da avaliação, para praticar e solidificar os conhecimentos solicitados? A análise da natureza dos erros cometidos pelos alunos deve ser feita pelos professores, não só para lhes informar a respeito de como podem superar os problemas encontrados como, e sobretudo, para ajustar o ensino às peculiaridades da classe. Essa é uma tarefa que o gestor deve incentivar.

 

Além disso, o professor precisa encontrar estratégias eficientes para informar o aluno a respeito do que errou e de por que errou. Ao comentar os resultados obtidos na avaliação, é importante que, ao perceber a natureza do erro cometido, o aluno entenda sua própria forma de pensar. É possível comentar com a classe os erros mais frequentes sem dizer quem os cometeu.

 

Mais tarde, é importante manter com os alunos que se encontram em situação mais difícil um bom diálogo a respeito de como podem ser ajudados. Se não houver na própria sala de aula oportunidades de acompanhamento individualizado, são essenciais estudos de recuperação e de reforço. Atender às necessidades de cada aluno, preservando o sentimento positivo que ele mantém a respeito de si mesmo, é algo que o professor competente faz corriqueiramente.

 

Nesse sentido, é importante que os professores sejam orientados para que:

 

a)      façam comentários curtos e encorajadores para alunos menores e comentários mais extensos para os mais velhos, detalhando seu desempenho;

b)      personalizem seus comentários, evitando escrever as mesmas frases para todos;

c)      tornem as notas (ou os conceitos) o mais significativas possível, dando maior peso aos objetivos mais importantes;

d)      sejam justos ao darem notas para os alunos;

e)      certifiquem-se de que podem justificar a nota atribuída a cada aluno;

f)       comentem erros específicos e apontem suas possíveis causas, fornecendo aos alunos ideias sobre como melhorar;

g)      concedam a todos os alunos o benefício da dúvida: todas as técnicas de avaliação envolvem erro;

h)      expliquem seus critérios de avaliação aos alunos e os relembrem de tempos em tempos;

i)        estabeleçam critérios de desempenho elevados que aumentem o nível de aspiração dos alunos, mas que não se tornem impossíveis de serem atingidos.

 

Muitas vezes, a família não consegue entender o que as notas ou os conceitos dos boletins significam, e isso pode gerar intensa ansiedade. É por esse motivo que as reuniões com os professores em geral são tão esperadas: nelas, há oportunidade de saber como o filho (ou a filha) está se saindo em um ambiente diferente daquele mais restrito da casa, regido por outros princípios, regras e normas. 

É preciso pensar bem em como receber os pais e, em especial, em como lhes informar qual está sendo o desempenho de seus filhos na escola, levando em consideração que muitos deles dificilmente poderão auxiliar seus filhos a realizar as tarefas escolares, ainda que possam estar atentos ao material, ao cumprimento das lições de casa e à frequência escolar. 

 

Nessa medida, deve ser solicitado apenas o auxílio possível, evitando criar falsas expectativas. Isso só produz frustração em ambas as partes.

 

Promover não é empurrar para a frente

 

É necessário frisar que a qualidade da escola se evidencia por meio de aprendizagens efetivas. Não se trata de corrigir o fluxo e adequar a idade à série “empurrando” os alunos para a frente. Isso seria uma tragédia pedagógica porque titularia sem formar e teria como consequência a perda de oportunidades futuras justamente porque se perdeu, no presente, a ocasião de aprender. 

 

É preciso levar os professores a mudarem o seu olhar. Na óptica de grande parte deles, os alunos são os principais culpados pelo fracasso escolar: desnutridos, mal-amados, repletos de problemas emocionais, com déficits cognitivos cada vez mais acentuados, constituem um grupo que melhor seria se fosse retirado da escola, mas não é bem assim, pois os principais problemas são os de ensino, e não os de aprendizagem.

 

 

 acessado em 15/09/2021: https://avaefape2.educacao.sp.gov.br/pluginfile.php/796088/mod_label/intro/gsaula_avaliacao_aprendizagem_final.pdf

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