O primeiro capítulo faz
uma apresentação do bairro onde está localizada a escola e uma apresentação da
própria escola “Celso Helvens”. Com uma descrição minuciosa, é possível ao
leitor imaginar o bairro e a escola com uma riqueza de detalhes.
No
relato sobre as entrevistas, assim como se deu com o bairro e a escola, o autor
apresenta as personagens de maneira tão clara e perspicaz, que é possível
imaginar o rosto e as casas, para alguns, é possível até mesmo imaginar a voz,
devido à tamanha astucia em descrever os trejeitos, hábitos e sentimentos
escondidos nas falas.
Com uma análise da
estrutura da escola em seu aspecto formal, resgatando a legislação que cuida de
disciplinar os cargos e suas funções, o autor, compara a lei com a realidade e
destaca como pode ser letra morta.
Analisando
as falas dos entrevistados, pode-se começar a desvelar o que realmente acontece
na escola e como à autoridade do diretor é exercida. Existindo pessoas contra e
a favor do modo como a escola é administrada, o autor, apresenta as duas
versões, além de fazer um contraponto com as teorias pedagógicas.
Para
melhor compreender o que se passa na escola, optou-se por tratar de forma
separada os diferentes agentes da escola. O diretor como um gerente, que está
entre os anseios da comunidade e as demandas da escola e o poder burocrático do
Estado.
Retratando
as formas de se escolher um diretor, seja por via de concurso, ou simplesmente,
por nomeação e até mesmo apresentando uma proposta de eleição, fato criticado e
aplaudido nas entrevistas feitas.
No
que se refere à APM, é muito claro o aspecto apenas formal desta instituição,
ficando a sua ação, apenas, para burocratizar ainda mais a escola.
Sobre o conselho de
escola, pode-se observar que existem diversas maneiras de concebê-lo. Alguns o
vêem apenas como um formalismo, principalmente diante das dificuldades de fazer
a sua composição. Outros têm no conselho uma forma democrática de se participar
e de se fazer ouvir.
Descrevendo uma das
reuniões da “Celso Helvens”, apresenta-se a faceta autoritária que a escola
está inserida, sem nem mesmo se dar conta de sua real condição. Os professores
e a diretora, de forma inconciente, mandam e desmandam, além de tentar diminuir
a participação popular contrária.
É claro que esta ação
não tem o fim em si mesmo, ma sim no ambiente que a escola pública está
inserida.
Sobre o grêmio
estudantil, o que se constatou foi a sua inexistência e mesmo a ausência de
conhecimento sobre a sua real função ou serventia.
O conselho de classe se
apresenta como um mero artifício burocrático, sem uma função pedagógica
verdadeira e coerente.
No que se refere ao
relacionamento interpessoal, parece que existe um conflito entre direção e
professores. Diante das entrevistas, o que se pode constatar é a constante
pressão que o professor sofre pela direção, atribuindo a falta ao serviço como
algo gravíssimo e não como um direito do trabalhador. Percebe-se a que a fala
da direção está muito em sintonia com o
discurso oficial do Estado.
A perseguição é
constante e quando o funcionário não concorda com a direção, ele é forçado pela
lei a pedir remoção, criando um ambiente de insatisfação e reafirmando a
postura autoritária do diretor.
Este autoritarismo está
presente também no relacionamento com os alunos, muito reafirmado pelos
professores, que usam o estigma da direção autoritária para ameaçar os alunos. Porém,
o medo fica só no imaginário, na prática os alunos não temem, pois a autoridade
está corroída.
Sobre os usuários da
escola, as falas mostram um grande preconceito com os moradores da favela do
bairro. Outro ponto destacado é o direito a informação como via importante de
democratização da escola. Os usuários têm o direito de saber sobre a sua
escola, mas na prática isto não acontece.
O conselho serve apenas
para comunicar recados diversos e os disciplinares. Além da verdadeira
escrachação pública, a reunião não se preocupa em mostrar os motivos do mau
desempenho e muito menos do bom. Longe de qualquer sentido pedagógico, o
conselho de classe não tem serventia nenhuma, a não ser afastar o pai da
escola.
Por mais que existam
várias formas de se ver a educação, duas formas podem ser destacadas: uma é a
informativa, ou seja, o ensino dos conteúdos das disciplinas. A outra é
formativa, ou seja, educar.
Apresentando as várias
faces da escola, o autor, mostra com os depoimentos como a escola é vista de forma
autoritária e reprodutora da pior forma possível. Os próprios alunos têm uma
visão horrível do ensino e de como ele deve ser. Porém, temos pistas de como
deveria ser uma escola pública e já paga pelo povo através dos impostos.
Ressaltando o papel da
escola, que também é de transmitir os conhecimentos adquiridos e acumulados
pela humanidade, na escola se sedimenta o que se está posto na sociedade, no
que se refere as relações capitalistas de mercado, mercadorias e público
consumidor.
Esta visão de mundo é compreendida
pelo fato de grupos dominadores imporem a população uma forma capitalista de
vida, que se reproduz até mesmo em lugares que não poderia ser admitido.
A escola está dividida
em ensinar um conteúdo, ou uma educação. Há aqueles que crêem que a escola deve
ensinar conteúdo, os mais progressistas acreditam em uma escola mais
emancipadora, que vai além dos conteúdos e da domesticação dos seres.
O que correntemente se
apresenta é o jogo de empurra entre os professores e os pais. Os professores
falam que os alunos não estudam em casa e por isto não aprendem. Mas não se
perguntam por que os alunos não estudam em casa?
Descrevendo a
comunidade e as várias formas de participação, os diferentes movimentos sociais
existentes no bairro, demonstram o quão hegemônica é a luta popular e como as
pessoas tendem a buscar soluções imediatas para os problemas imediatos.
Diante das dificuldades
do dia-a-dia, as pessoas não tem percepção dos avanços sociais que seriam
possíveis, com uma luta social articulada e com metas revolucionárias. No entanto,
não podemos condenar um pai que busca forma clientelista de ação para resolver
seus problemas imediatos, mesmo porque, estas pessoas não têm consciência,
ainda, de que sua luta tem força suficiente para mudar os problemas sociais no
seu bairro e no seu país.
Mas como falar para um
pai, que ele deve abrir mão da boa educação do seu filho hoje, em troca de uma
revolução social no futuro. Unir as demandas imediatas e os desejos futuros de
revolução é o grande problema que está inserido os movimentos sociais e é o que
deve ser resolvido pelos agentes nos movimentos.
Com o presente
trabalho, não se pretende por fim a discussão sobre a escola, mesmo porque esta
está longe de acontecer, o que se busca é uma perspectiva da real condição da
escola pública, seus desafios e seus desejos de futuro.
Sem comentários:
Enviar um comentário