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A mostrar mensagens de agosto, 2025

Parábola dos Talentos. Meditação Filosófica/Teológica de Mateus 25,14-30

À primeira vista, parece uma simples lição de economia e responsabilidade, mas ao aprofundarmos, encontramos conceitos que dialogam com a ética, a filosofia política e a metafísica. A parábola narra a história de um homem que, antes de viajar, confia seus bens a três servos, dando a cada um "talentos" de acordo com suas capacidades. Os dois primeiros investem e duplicam seus talentos, enquanto o terceiro enterra o seu por medo. Para Kant, a ação moralmente correta não é determinada pelas consequências, mas pela intenção e pela obediência a um "imperativo categórico" que é uma lei moral universal. O terceiro servo falha não apenas por não ter gerado lucro, mas por sua falta de iniciativa e seu medo. Ele age por conveniência e autopreservação, não por um senso de dever. Se o seu princípio de ação, "Não fazer nada por medo de perder", fosse universalizado, resultaria na estagnação de toda a sociedade. Os dois primeiros servos, por outro lado, agem por um sens...

O banquete do Fariseu. Meditação Filosófica/ Teológica de Lucas 14,1.7-14

Caro leitor, Escrevo esta meditação com a intenção de aprofundar uma passagem bíblica que, à primeira vista, pode parecer apenas um preceito moral religioso, mas que, ao ser analisada sob a lente da filosofia, revela uma riqueza de conceitos fundamentais para toda humanidade. No Evangelho de Lucas 14,1.7-14, onde Jesus, em um banquete, nos oferece uma aula de ética e virtude. A instrução de Jesus para que, ao sermos convidados a um banquete, busquemos o "último lugar" ecoa diretamente na ética das virtudes de Aristóteles. Para o filósofo, a virtude não é um extremo, mas sim um "justo meio" entre o excesso e a deficiência. A humildade, nesse sentido, não é a anulação de si mesmo, mas a capacidade de se autoavaliar de forma realista, sem cair na soberba (o excesso de autoestima) ou na abjeção (a falta de autoestima). Ao buscar o lugar mais baixo, não se trata de se diminuir, mas de desvincular seu valor da posição social ou do reconhecimento externo. A recompensa de s...

Morte de João Batista. Meditação Filosófica/Teológica de Marcos 6,17-29

 Caro leitor, Quando lemos o evangelho de Marcos 6,17-29, a passagem sobre a morte de João Batista, podemos fazer uma ligação incrível com o existencialismo e o estoicismo. A história de Herodes é uma oportunidade para reflexão sobre nossa existencia. Por um lado,  ele não queria matar João, mas se sente preso pelo juramento que fez em público e pela pressão da festa. É o exemplo perfeito da angústia da escolha. Ele tem a liberdade de decidir, mas o peso da responsabilidade é tão grande que ele acaba cedendo ao medo da humilhação, e não à sua consciência. A cena mostra como a nossa liberdade, se não for bem usada, pode nos levar a cometer atos terríveis. João está na prisão, sabe que sua vida corre perigo, mas não demonstra desespero. Ele aceita o que está fora de seu controle, ou seja, o destino imposto por Herodes. O que ele controla é sua própria virtude. Ele se mantém firme em sua denúncia, inabalável, e morre com dignidade, sem ceder. É a essência do estoicismo: focar naq...

Servo fiel. Meditação Filosófica/ Teológica de Mateus 24, 42-51.

Prezado leitor, Escrevo esta reflexão sobre o texto de Mateus 24:42-51. Fiquei pensando em como esse trecho, que muitos leem de uma perspectiva puramente religiosa, é na verdade um espelho para o existencialismo e o estoicismo. A parábola fala sobre a vigilância, a imprevisibilidade da vida e a necessidade de estarmos prontos para o que é incerto. O que me impressionou é como isso dialoga com a filosofia existencialista. O texto ressalta a nossa liberdade e responsabilidade. O servo que vive na irresponsabilidade, acreditando que o senhor vai demorar, é a representação perfeita da má-fé existencial. Ele foge da sua liberdade de escolha, vivendo de forma inautêntica, se perdendo em vícios e violência. A punição dele não é apenas divina, mas a amarga e existencial dor de ter vivido uma vida sem propósito. Em contrapartida, o servo fiel é a pessoa que abraça a sua existência, que age no presente com responsabilidade, dando sentido à própria vida. O ensinamento de "estar vigilante...

Fariseus II. Meditação Filosófica/Teológica de Mt 23,23-26 e a 1 carta de Paulo aos Tessalonicenses.

Caro leitor É notável como textos tão antigos, como a Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses e o Evangelho de Mateus, podem ser tão pertinentes para os nossos estudos e de como pensar o nosso cotidiano, servindo como uma base rica para a discussão de correntes filosóficas e conceitos psicológicos essenciais. Na carta de Paulo aos Tessalonicenses (1Ts 2,1-8), encontramos um modelo de ação moral que ecoa o ideal da ética da virtude. No entanto, ele vai além, enfatizando a autenticidade. Paulo não age por vanglória ou para agradar aos outros, mas com uma intenção pura e sincera, "examinado por Deus". Essa abordagem se alinha com o imperativo categórico de Kant, que postula a necessidade de agir a partir de uma máxima que possa ser universalizada, não como um meio para um fim, mas como um fim em si mesma. A psicologia humanista, com pensadores como Carl Rogers, também ressoa com essa ideia. O apóstolo se apresenta como alguém em busca de congruência, uma correspondência entr...

A porta estreita. Meditação Filosófica/Teológica de Lucas 13:22-30.

Caro leitor, Em Lucas 13:22-30, onde Jesus fala sobre a "porta estreita",  à primeira vista, pode parecer puramente teológica, mas que, ao meu ver, oferece lições profundas sobre a mente humana e o sentido da existência. A frase "Esforçai-vos por entrar pela porta estreita" é um convite a uma filosofia do esforço, que nos lembra que a virtude não é um estado natural ou um presente gratuito, mas o resultado de um trabalho constante e consciente. Jesus nos desafia a uma ética da responsabilidade individual, onde o sentido da vida não é encontrado no caminho mais fácil, mas na busca por uma existência autêntica, mesmo que isso exija escolhas difíceis. A passagem também é uma crítica ao exclusivismo e ao privilégio. A ideia de que "virão do oriente e do ocidente" e que "os últimos serão primeiros" é um questionamento da noção de que a verdade ou a virtude pertencem a um grupo seleto. É um convite para pensarmos sobre a universalidade do humano e a im...

Os Fariseus. Meditação filosófica/Teológica de Mateus 23, 13-22 .

 Amigo, Que reflexão profunda a de Jesus em Mateus 23:13-22! Ao meditar sobre essa passagem, percebi que ela não é apenas um sermão, mas uma verdadeira aula de filosofia moral. Jesus, ao chamar os escribas e fariseus de "hipócritas", usa uma palavra que vem do grego para "ator". Isso me fez ver que ele não estava apenas os criticando, mas desmascarando a própria natureza da hipocrisia. Essa é a ideia de viver uma mentira, de ter um interior em conflito com o exterior. A lição filosófica é clara: a moralidade não é um espetáculo para os outros. Não se trata de parecer justo, mas de ser justo. A virtude genuína floresce na sinceridade do coração, não no aplauso da multidão. Jesus nos lembra que a verdadeira integridade exige que nossas ações e intenções estejam em harmonia. A crítica de Jesus ao zelo dos fariseus por detalhes minúsculos, enquanto ignoravam a justiça, a misericórdia e a fé, é uma das partes mais impactantes. Isso revela um conflito filosófico fundament...

O Banquete. Meditação filosófica/Teológica de Mateus 22, 1-14 .

 Caro leitor, Com prazer, compartilho algumas reflexões sobre a parábola de Mateus 22, 1-14. Essa história, que nos foi ensinada por Jesus, oferece uma profunda lição sobre a nossa relação com o divino. Acredito que sua beleza reside na união entre a narrativa cristã e uma profunda reflexão filosófica. A parábola começa com um Rei que convida seus escolhidos para um banquete. Aqui, o Rei representa Deus, e o banquete simboliza a comunhão perfeita com Ele. O convite é a manifestação da graça divina — uma oferta gratuita e incondicional de felicidade e plenitude. Os primeiros convidados, porém, recusam. Eles não o fazem por ignorância, mas por escolha consciente. Eles priorizam seus afazeres e bens materiais em detrimento do banquete. Essa recusa levanta uma questão filosófica crucial sobre o livre-arbítrio. A liberdade de escolha, embora seja um dom, acarreta uma grande responsabilidade. Ao rejeitar o convite para a união com o divino, os convidados não estão apenas dizendo "não...

Os trabalhadores da vinha. Meditação filosófica/ Teológica , Mateus 20, 1-16a

Caro leitor, A Parábola dos Trabalhadores da Vinha choca-nos à primeira vista, pois confronta diretamente a nossa lógica humana. Trabalhadores que suaram sob o sol do meio-dia recebem o mesmo salário que aqueles que mal começaram a trabalhar. O dono da vinha subverte a nossa mais básica compreensão de justiça distributiva, aquela que a filosofia, de Aristóteles a Rawls, define como a distribuição de recompensas com base no mérito e no esforço. No entanto, a parábola nos convida a ir além dessa lógica. Em vez de uma ética do dever ou da proporcionalidade, o patrão age a partir de uma ética da benevolência. Essa benevolência é a manifestação da graça divina, um dom imerecido que Deus concede a todos. A salvação não é algo que "ganhamos" por nosso esforço, mas algo que recebemos pela misericórdia de um Pai que nos ama incondicionalmente. Para a visão filosófica, essa benevolência nos força a questionar se a justiça estrita é, de fato, o valor mais alto. A parábola funciona como ...

O jovem rico. Meditação Filosófica sobre Mateus 19- 16,22. .

 Prezado leitor, A passagem bíblica de Mateus 19, 16-22, que descreve o encontro entre Jesus e o jovem rico, é mais do que uma narrativa religiosa. Ela é, também, um convite à reflexão filosófica sobre o que realmente significa levar uma "vida boa", sobre o conflito de valores e a natureza da liberdade humana. Ao examinarmos o texto sob uma lente filosófica, percebemos que a conversa entre Jesus e o jovem ecoa questões fundamentais que intrigaram pensadores por milênios. A pergunta inicial do jovem, "Mestre, que farei de bom para possuir a vida eterna?", nos remete diretamente à eudaimonia, conceito central na filosofia aristotélica. Para Aristóteles, a eudaimonia (traduzida como "felicidade" ou "florescimento humano") não é um prazer momentâneo, mas um estado de bem-estar alcançado através de uma vida virtuosa. O jovem, embora rico, sente que algo lhe falta. Sua pergunta revela uma busca por uma conduta que o leve a essa plenitude, algo que ele ...

Jesus andando sobre as águas. Meditação Filosófica/Teológica sobre Mateus 14, 22-36

Na leitura de hoje, Mateus 14, 22-36. Trata-se da passagem em que Jesus e Pedro caminham sobre as águas. Em uma reflexão Teológica, um dos significados dessa passagem reside no fato de que Pedro caminha sobre as águas não por suas próprias forças, mas pela graça divina na qual crê. Quando ele se sente dominado pela dúvida, quando deixa de fixar o olhar em Jesus e teme o vento, quando não confia plenamente na palavra do Mestre, isso indica que, interiormente, ele está a se afastar dele, e é nesse momento que corre o risco de afundar no mar da vida. O mesmo ocorre conosco: se olharmos unicamente para nós mesmos, tornamo-nos dependentes dos ventos e já não conseguimos atravessar as tempestades e as águas da vida. Porém, podemos aprofundar ainda mais a interpretação e lançar mão de conceitos ainda mais universais do entendimento humano. Eu sei que a fé, no sentido religioso, não seja algo central para todos, mas a história tem paralelos com a filosofia e com a nossa própria experiência de ...