Parábola dos Talentos. Meditação Filosófica/Teológica de Mateus 25,14-30

À primeira vista, parece uma simples lição de economia e responsabilidade, mas ao aprofundarmos, encontramos conceitos que dialogam com a ética, a filosofia política e a metafísica. A parábola narra a história de um homem que, antes de viajar, confia seus bens a três servos, dando a cada um "talentos" de acordo com suas capacidades. Os dois primeiros investem e duplicam seus talentos, enquanto o terceiro enterra o seu por medo.

Para Kant, a ação moralmente correta não é determinada pelas consequências, mas pela intenção e pela obediência a um "imperativo categórico" que é uma lei moral universal. O terceiro servo falha não apenas por não ter gerado lucro, mas por sua falta de iniciativa e seu medo. Ele age por conveniência e autopreservação, não por um senso de dever. Se o seu princípio de ação, "Não fazer nada por medo de perder", fosse universalizado, resultaria na estagnação de toda a sociedade. Os dois primeiros servos, por outro lado, agem por um senso de dever e responsabilidade, utilizando os recursos que lhes foram confiados de forma diligente e proativa.

Se nos aprofundar ainda mais, a parábola também oferece uma base para a reflexão sobre o capitalismo e a teoria do valor. Adam Smith, em A Riqueza das Nações, argumentava que o valor de um bem ou serviço é criado pelo trabalho humano. A parábola de Jesus ressalta que o valor não reside na posse passiva, mas no trabalho e no esforço para fazer os bens frutificarem. O talento enterrado é um capital "morto", que não gera valor. O servo negligente é punido justamente por sua inatividade. Nesse sentido, a parábola sugere que a riqueza e o valor são criados através da diligência e do uso produtivo dos recursos.

Ainda além, podemos interpretar a passagem como uma reflexão sobre a liberdade e a responsabilidade. Para Jean-Paul Sartre, o homem está "condenado a ser livre"; a sua existência precede a essência, e ele é totalmente responsável por suas escolhas e ações. O mestre, ao dar os talentos, confere aos servos a liberdade de escolha. Os dois primeiros servos assumem a responsabilidade por sua liberdade e agem. O terceiro servo, por outro lado, renega sua liberdade, preferindo a segurança do nada. O medo, para o existencialismo, é uma emoção que surge da consciência da nossa total liberdade e responsabilidade. O servo covarde escolhe a má-fé, uma forma de autoengano para fugir de sua liberdade. A sua punição não é apenas por falhar, mas por rejeitar a sua própria liberdade de agir.

A Parábola dos Talentos, portanto, transcende sua narrativa religiosa para se tornar um espelho de reflexões profundas sobre a condição humana: a ética do dever, a importância do trabalho na criação de valor e a responsabilidade radical que advém de nossa liberdade de escolha.

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