O banquete do Fariseu. Meditação Filosófica/ Teológica de Lucas 14,1.7-14
Caro leitor,
Escrevo esta meditação com a intenção de aprofundar uma passagem bíblica que, à primeira vista, pode parecer apenas um preceito moral religioso, mas que, ao ser analisada sob a lente da filosofia, revela uma riqueza de conceitos fundamentais para toda humanidade. No Evangelho de Lucas 14,1.7-14, onde Jesus, em um banquete, nos oferece uma aula de ética e virtude.
A instrução de Jesus para que, ao sermos convidados a um banquete, busquemos o "último lugar" ecoa diretamente na ética das virtudes de Aristóteles. Para o filósofo, a virtude não é um extremo, mas sim um "justo meio" entre o excesso e a deficiência. A humildade, nesse sentido, não é a anulação de si mesmo, mas a capacidade de se autoavaliar de forma realista, sem cair na soberba (o excesso de autoestima) ou na abjeção (a falta de autoestima). Ao buscar o lugar mais baixo, não se trata de se diminuir, mas de desvincular seu valor da posição social ou do reconhecimento externo. A recompensa de ser convidado a "subir" simboliza a verdadeira honra, aquela que não é conquistada pela vaidade, mas sim pelo mérito intrínseco.
A segunda parte da passagem, que nos instrui a convidar para nossas festas os "pobres, aleijados, coxos e cegos", nos remete diretamente à ética do cuidado e ao pensamento de Emmanuel Lévinas. Para Lévinas, o encontro com o rosto do Outro (em sua vulnerabilidade) nos impõe uma responsabilidade ética incondicional. Jesus nos convida a quebrar o ciclo da reciprocidade pragmática (convidar quem pode retribuir) e a abraçar uma generosidade incondicional. A verdadeira hospitalidade não é aquela que busca um retorno, mas a que acolhe os marginalizados e os que não podem oferecer nada em troca. Esse ato desinteressado é a base para uma ética que se manifesta na relação com o outro.
Podemos, ainda, enxergar nessa passagem uma crítica sutil ao utilitarismo, a ética que defende que a ação moralmente correta é aquela que maximiza a felicidade ou o bem-estar do maior número de pessoas. Na lógica utilitarista, convidar pessoas influentes para um banquete seria uma ação "racional", pois poderia gerar benefícios futuros. No entanto, Jesus subverte essa lógica, propondo uma ação que não busca o benefício próprio ou a maximização de resultados, mas sim uma ética do desinteresse. A recompensa "na ressurreição dos justos" não é um prêmio utilitário, mas a validação de uma vida guiada por princípios que transcendem o cálculo pragmático.
Em suma, a passagem de Lucas nos desafia a ir além da mera etiqueta social e do cálculo de interesses. Ela nos convida a agir não por vaidade ou utilitarismo, mas por uma genuína humildade e compaixão, fundamentando uma vida que encontra seu verdadeiro valor na busca pelo bem do outro, independentemente de qualquer retorno.
Espero que esta breve análise possa instigar uma reflexão frutífera.
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