Odre e remendos novos. Meditação Filosófica/Teológica de Lucas 5:33-39

A passagem de Lucas 5:33-39, com as parábolas do remendo novo e do vinho novo, é uma profunda reflexão filosófica sobre a natureza da mudança e a incompatibilidade entre o novo e o velho. Jesus não está apenas dando conselhos práticos, mas estabelecendo princípios que questionam nossas estruturas de pensamento e ação.

As parábolas revelam uma ontologia da novidade. O "vinho novo" e o "remendo novo" representam uma realidade que é fundamentalmente distinta do que veio antes. Eles não podem ser simplesmente acomodados por estruturas pré-existentes, como a "roupa velha" e o "odre velho". A lição aqui é que certas transformações, para serem autênticas, exigem uma ruptura com o passado, e não apenas uma reforma. A rigidez do velho, que simboliza mentalidades e sistemas inflexíveis, é o que o leva à autodestruição, pois não pode conter a vitalidade e a expansão do novo.

Jesus critica a ética do ritualismo cego dos fariseus, que se baseava no cumprimento de regras (o jejum) sem considerar o contexto. Ele propõe uma ética do propósito. O jejum, que é uma prática de luto, não faz sentido na presença do Esposo. A ação correta não é determinada por uma regra fixa, mas pela adequação à situação. A moralidade, para Jesus, se concentra na liberdade e no discernimento, priorizando o convívio e a alegria sobre a obediência cega.

Do ponto de vista do conhecimento, as parábolas ensinam que a revelação de uma nova verdade não pode ser compreendida por meio de velhos esquemas mentais. O "vinho novo" (a revelação do Reino) exige "odres novos" (uma mente aberta e renovada). O conhecimento sobre Deus e sua obra não é apenas uma questão de dedução lógica ou estudo de tradições, mas de uma experiência vivida que transcende as categorias existentes.

Em suma, as parábolas de Jesus são um convite filosófico a abandonar a rigidez do passado para abraçar a maleabilidade necessária para receber a novidade da vida e da verdade.