Trave no Olho. Meditação Filosófica/Teológica de Lucas 6:39-42
O Evangelho de Lucas 6:39-42, nos apresenta uma lição sobre a hipocrisia e a imperativa necessidade de autoavaliação. Ao empregar três parábolas entrelaçadas—a do cego que conduz outro cego, a do discípulo e seu mestre, e a do cisco e da trave—Jesus nos convida a uma reflexão que transcende o mero ato de julgar.
A parábola do cego encontra um notável paralelo no Racionalismo, uma corrente filosófica que eleva a razão (ratio) e o conhecimento (episteme) como vias para a verdade. O indivíduo "cego" que se atreve a conduzir o outro carece de luz (phos) do saber e, inevitavelmente, levará ambos à ruína. O ensinamento de Jesus nos lembra que o autoconhecimento (gnothi seauton), um preceito socrático, é o primeiro passo para o conhecimento de Deus, e a prudência (prudentia) exige que corrijamos em nós mesmos um erro maior antes de tentarmos corrigir uma falha menor no outro.
De igual modo, a parábola do cisco e da trave ecoa os princípios da Ética das Virtudes, que se concentra no cultivo do caráter (ethos), e não apenas em regras morais. A "trave" em nosso próprio olho não é uma simples falha, mas um vício moral (vitium), um defeito que obstrui a virtude (virtus). Antes de pretender "corrigir" o cisco no olho alheio, torna-se imperativo que trabalhemos em nossas próprias virtudes, a exemplo da humildade (humilitas), pois o verdadeiro julgamento (iudicium) começa em nós mesmos.
Essa passagem também se alinha com o Existencialismo ao fazer um veemente chamado à autenticidade (authentikos). É um ato de "má-fé" apontar os defeitos dos outros enquanto ignoramos nossas próprias falhas gritantes. A moralidade genuína (veritas) brota do enfrentamento honesto de nossa própria condição e responsabilidade. Nesse sentido, a trave é vista como um símbolo do orgulho, o mais grave de todos os pecados, que nos cega para a nossa própria condição pecaminosa e nos impede de reconhecer a necessidade da graça divina.
Percebemos que o texto, não se limita ser uma advertência contra a hipocrisia. Ele representa um convite profundo e transformador à autoanálise, à humildade e ao desenvolvimento de um caráter moral que nos habilite a amar e a guiar o próximo de modo autêntico e compassivo, despidos do fardo do julgamento.
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