A Urgência da Missão e a Ética do Envio. Meditação Filosófica/Teológica de Lucas 10,1-9
O Evangelho de Lucas 10,1-9 não é apenas um registro histórico do envio de setenta e dois discípulos; é um manual perene de evangelização que fundamenta a missão universal da Igreja e estabelece uma ética radical para todo o enviado. A passagem lança luz sobre três eixos cruciais: a dimensão teológica da missão, a ética do despojamento e a pragmática da paz.
A ordem de Jesus revela a urgência da messe e a insuficiência dos trabalhadores (v. 2). A metáfora da "grande messe" é um apelo existencial, indicando que a humanidade está madura para a colheita da salvação, mas os agentes do Reino são escassos. Isso coloca a missão como uma necessidade divina, não apenas uma iniciativa humana, exigindo que os discípulos recorram ao "Dono da messe" em oração. O envio "dois a dois" (v. 1) sublinha o aspecto comunitário e eclesial da tarefa, garantindo que o testemunho seja plural e a palavra, validada pela comunhão.
Jesus institui uma ética do despojamento radical (v. 4). Ao serem enviados "como cordeiros para o meio de lobos" (v. 3), os missionários são deliberadamente colocados em uma posição de vulnerabilidade. A proibição de levar "bolsa, nem sacola, nem sandálias" é um mandamento de pobreza evangélica e de total confiança na Providência. É um protesto contra a dependência dos meios materiais e do poder humano; a única força do missionário é a mensagem que carrega e o Espírito que o acompanha. Essa vulnerabilidade, paradoxalmente, torna a mensagem mais crível e desinteressada.
O cerne da ação evangelizadora reside na pragmática da paz e na proclamação do Reino. A primeira palavra a ser proferida em qualquer casa é a "paz" (shalom - plenitude e bem-estar) (v. 5). Esta saudação é uma oferta incondicional que, se rejeitada ("se não, ela voltará para vós"), não destrói a integridade moral do enviado. A missão se completa com o serviço de cura e o anúncio direto: "O Reino de Deus está próximo de vós" (v. 9). O trabalho de cura é o sinal tangível de que a nova ordem de justiça e amor (o Reino) já está em curso, e o sustento material é justificado porque "o trabalhador merece o seu salário" (v. 7), estabelecendo um princípio de justiça e reciprocidade na comunidade acolhedora.
Lucas 10,1-9 permanece como o mapa fundamental para a Igreja em saída. Ele convoca o cristão à corresponsabilidade pela messe, exige uma vida despojada e confiante, e orienta a ação para a proclamação da paz e a manifestação concreta do Reino. O verdadeiro missionário não viaja com aparato, mas com a convicção de que sua única riqueza e defesa é a Palavra de Deus.
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