Conhece a arvore por seus frutos. Meditação Filosófica/Teológica de Lucas, 43-49
A passagem do Evangelho de Lucas 6, 43-49, que discorre sobre a coerência entre o ser e o agir, oferece uma rica tapeçaria de significados. A metáfora da árvore e seus frutos é uma lição sobre a necessidade de que a bondade do coração se manifeste em ações concretas de amor e caridade. A fé não pode ser apenas uma crença professada, mas uma força viva que se traduz em obras. Da mesma forma, a imagem da casa construída sobre a rocha simboliza a solidez que a obediência aos ensinamentos de Cristo confere à vida do fiel, garantindo que ela resista às tribulações. A rocha, neste contexto, é o próprio Cristo e sua palavra, o alicerce inabalável da vida cristã.
Filosoficamente, a passagem ecoa princípios de correntes que se debruçam sobre a ética e a ação humana. O aristotelismo, por exemplo, encontra um paralelo notável na ética das virtudes. Aristóteles defendia que o caráter moral de uma pessoa é formado por hábitos, e que a virtude não é um ato isolado, mas uma disposição constante para o bem. A "árvore boa" de Jesus é o ser virtuoso de Aristóteles, e seus "frutos bons" são as ações virtuosas que dele emanam. Ambas as perspectivas, a cristã e a aristotélica, convergem na ideia de que a essência de uma pessoa é revelada por seus atos.
O existencialismo cristão, representado por pensadores como Søren Kierkegaard, também oferece uma lente valiosa. Para Kierkegaard, a fé não é um assentimento intelectual passivo, mas uma escolha existencial que exige um compromisso total. Aquele que "ouve a palavra" mas não a pratica, é o indivíduo que professa uma fé vazia de sentido, que não se traduz em engajamento real. A casa construída sobre a rocha simboliza o indivíduo que, por meio de sua ação, dá substância e autenticidade à sua fé.
Por fim, o pragmatismo encontra na passagem de Lucas uma validação de sua ênfase nas consequências práticas das crenças. Para os pragmáticos, a verdade de uma crença é medida por sua utilidade e eficácia. Jesus não se interessa por uma fé meramente teórica, mas por uma fé que "funciona", que molda a vida e a torna mais sólida e resiliente. A mensagem é clara: uma crença é valiosa não pelo que é dita, mas pelo que ela é capaz de construir na vida real.
A Proclamação do Evangelho de Lucas 6, 43-49, transcende o mero ensinamento religioso. Ela se estabelece como uma profunda reflexão sobre a coerência entre o interior e o exterior, entre a fé e a vida. A passagem nos desafia a olhar para nossos frutos e para o alicerce de nossa existência, convidando-nos a edificar uma vida que seja não apenas professada com palavras, mas plenamente vivida em atos.
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