Jesus e as mulheres. Meditação Filosófica/Teológica de Lucas 8,1-3.

O Evangelho de Lucas 8,1-3 com o relato de Jesus e as mulheres em sua missão, nos oferece uma rica oportunidade de reflexão, que podemos aprofundar, estabelecendo um paralelo com a corrente filosófica do existencialismo. Embora seja anacrônico falar de existencialismo no tempo de Jesus, podemos enxergar no seu modo de agir e na resposta de seus seguidores princípios que ressoam com essa filosofia.

A passagem nos diz que Maria Madalena, Joana e Susana, entre outras, seguiram Jesus depois de terem sido curadas de enfermidades e libertadas de "espíritos malignos". A filosofia existencialista, em especial com pensadores como Jean-Paul Sartre, defende que "a existência precede a essência", ou seja, o ser humano primeiro existe, se encontra no mundo, e depois, por suas escolhas, constrói sua própria essência.

Aqui, o paralelo é notável. Essas mulheres, libertadas de suas aflições, não foram programadas para seguir Jesus. Elas exercem a sua liberdade radical e fazem a escolha existencial de se juntar a Ele. Essa escolha não é uma resposta automática à cura, mas uma decisão autêntica, que as define e lhes dá um novo sentido de vida. Elas não são mais as "doentes" ou as "endemoniadas", mas discípulas que moldam seu próprio ser através do serviço. O Evangelho mostra que a verdadeira liberdade não está na ausência de problemas, mas na capacidade de responder a um chamado de forma autêntica, conferindo significado à própria existência.

O existencialismo, especialmente em Martin Buber e Emmanuel Lévinas, também enfatiza a importância do encontro com o outro para a construção da identidade. Para Buber, a relação Eu-Tu é a forma mais plena de encontro, em que o outro não é um objeto a ser utilizado, mas um ser com quem se estabelece uma relação de mútua presença.

A comunidade formada por Jesus reflete esse ideal. Ela não é um grupo de indivíduos isolados, mas um conjunto de pessoas que se encontram em torno de uma missão comum. A presença das mulheres, com sua individualidade e seus bens, ao lado de Jesus e dos apóstolos, mostra que o sentido de ser não é encontrado no isolamento, mas na relação genuína com o outro. A doação de si e o serviço mútuo tornam-se a base de uma comunidade onde cada membro, em sua singularidade, contribui para a existência do todo. A missão de Jesus só é possível porque se baseia no encontro, na intersubjetividade e na partilha de vidas.

Que este paralelo com o existencialismo nos ajude a perceber que a nossa fé não é uma resposta passiva a dogmas, mas um chamado a uma existência autêntica e livre, baseada nas nossas escolhas e no nosso compromisso com o próximo.

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