O administrador infiel. Meditação Filosófica/ Teológica de Lucas 16:1-13.
A parábola do administrador infiel, encontrada em Lucas 16:1-13, à primeira vista, este texto pode parecer um quebra-cabeça. Por que Jesus elogia um homem que age de forma desonesta? No entanto, para desvendarmos seu verdadeiro significado, precisamos ir além da superfície e usar as lentes da filosofia.
A filosofia moral nos ensina que uma ação virtuosa é aquela que está em harmonia com princípios como a justiça e a honestidade. Mas, na parábola, Jesus nos apresenta uma distinção crucial. O administrador não é elogiado por sua moralidade, mas por sua sagacidade. Ele demonstra uma forma de inteligência prática, chamada na filosofia de prudência ou phronesis, a capacidade de usar a razão para agir de forma eficaz em uma situação.
O administrador é um pragmático. Ele enxerga o perigo de perder tudo e, com uma astúcia impressionante, age para garantir seu futuro. Ele entende as regras do "jogo" terreno e as utiliza a seu favor. Jesus, ao elogiar essa sagacidade, não está endossando a desonestidade, mas usando-o como um exemplo.
A parábola nos desafia a repensar nossa relação com o dinheiro e os bens materiais. O administrador usa a "riqueza injusta" (uma referência aos bens deste mundo) como uma ferramenta para construir relacionamentos e assegurar seu futuro. Ele não a vê como um fim em si mesma, mas como um meio.
Jesus vira a mesa: Ele nos convida a usar a mesma sagacidade do administrador, mas com um propósito diferente e mais nobre. Se o administrador usou o dinheiro para garantir um futuro terreno, nós, os "filhos da luz", devemos usar nossos recursos para garantir um futuro eterno. Ou seja, devemos usar o que temos—seja dinheiro, talentos ou tempo—para fazer o bem, ajudar o próximo e construir algo que tenha valor para o Reino de Deus.
O clímax da parábola é a afirmação de que não podemos servir a dois senhores. Essa é uma questão de liberdade e prioridade. O dinheiro, ou Mamon, pode se tornar um mestre que nos aprisiona, nos levando a um ciclo de ganância e ansiedade. Servir a Deus, por outro lado, significa libertar-se dessa servidão e alinhar nossas vidas com um propósito maior.
A parábola nos coloca diante de um dilema existencial: onde está o nosso verdadeiro tesouro? No dinheiro que se corrompe e se perde, ou nas ações de amor e bondade que ecoam na eternidade?
A parábola do administrador infiel não é uma apologia à desonestidade, mas uma chamada à reflexão profunda. Ela nos desafia a ser tão sagazes e pragmáticos em nossa fé quanto o administrador foi em sua vida terrena. Que possamos usar nossos recursos com sabedoria, não para acumular, mas para servir, e que nossa lealdade seja sempre a um propósito que transcende o material.
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